Interiors é uma publicação de cinema e arquitetura online, publicada por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. A Interiors escreve uma coluna exclusiva para o ArchDaily na qual analisa e diagrama a espacialidade de filmes e séries. Na sua loja oficial você poderá encontrar desenhos exclusivos de algumas das plantas baixas mais famosas do mundo do entretenimento.
O meio visual do filme faz com que o estilo sempre desempenhe um papel significativo no cinema. Esta é uma das razões pelas quais a combinação 'filme e arquitetura' tem andado de mãos dadas ao longo dos últimos cem anos. Em certo sentido, ambos meios exibem qualidades complementares; o filme, como a fotografia, capta os aspectos estruturais da arquitetura, enquanto o projeto de arquitetura dita o espaço cinematográfico.
O mesmo não pode ser dito para a televisão - porque mesmo que a televisão tenha passado por uma transformação estética nos últimos anos com séries como The Sopranos, Mad Men, Breaking Bad, True Detective e The Knick, ainda é muito mais um meio baseado em personalidades. Desta forma, o seu formato em si permite um exame aprofundado dos personagens.
Mr. Robot começa em um café na cidade de Nova York (Think Coffee na 4th Avenue na vida real, mas sob o nome de Ron’s Coffee na série), com a maioria de seu primeiro episódio definido inteiramente em um único local, uma vez que introduz o seu público ao personagem de Elliot Alderson (Rami Malek). Em contraste, a temporada se desenvolve em tomada contínua numa mansão opulenta, um lugar cuja conexão com a narrativa da série está envolta em secretismo e mistério. Estes espaços não poderiam ser mais diferentes um do outro e, no entanto, é precisamente onde o Mr. Robot encontra seus interesses arquitetônicos - em díspares e contraditórios espaços.
Mr. Robot alterna entre espaços que incluem ruas arenosas em Nova York, edifícios abandonados e espaços de escritórios modernos. A estrutura de aço elegante da fachada do prédio da E. Corp justaposta com edifício de apartamento na Lower East Side de Elliot, próximo de restaurantes de comida rápida e estações de metrô, faz com esta seja, sem dúvida, uma série de televisão mais arquitetônica do que nunca.
De fato, para uma série de televisão tão incrivelmente interessada em arquitetura, é justo que seu protagonista passe seus dias olhando para um modelo de arquitetura da cidade de Nova York no Queens Museum. É o estilo arquitetônico da forma de filmagem, no entanto, que faz de Mr. Robot tão rica.
Mr. Robot, de Sam Esmail, é o trabalho de um autor singular e, enquanto ele está investido fortemente na narrativa não confiável de seu protagonista, é também muito preocupado com a arquitetura e estilo. Este cuidado é visto principalmente em seu enquadramento não convencional, bem como na sua fotografia de espaços de escritórios e edifícios; é uma série interessada em saber como os espaços aparecem e como os personagens aparecem nesses espaços.
Ao longo da série, Esmail usa continuamente sua câmera de forma que ela crie um significado arquitetônico nos espaços. No segundo episódio da série, por exemplo, uma câmara está montada na porta da frente do apartamento de Elliot - quando ele abre a porta vemos a totalidade do espaço através do movimento de câmera, tudo em uma única tomada. Isto ocorre uma vez em um episódio posterior com uma câmera montada ao lado de uma porta do carro. Na verdade, mesmo na cena mais notável da série, em que o nosso herói descobre devastadoramente uma surpresa mortal no porta-malas de um carro, uma performance nítida é possível graças a uma escolha - focar em sua reação através de uma tomada ininterrupta que dura vários minutos . Esta é uma série - e um cineasta - inerentemente interessada em usar o espaço para capturar o sentimento. Estes momentos significativos ao longo da série são todos determinados pelo uso do espaço (ou pela falta dele).
O espaço mais proeminente da série é o apartamento de Elliot que se torna um refúgio seguro para seu personagem. É o único espaço onde ele se sente um pouco seguro em meio ao intenso caos de toda a série; embora existam forças externas que ameacem o espaço privado, como quando os capangas de Fernando Vera se infiltram no espaço ou quando Tyrell Wellick confronta Elliot, há uma grande quantidade de energia no apartamento de Elliot. É mais do que a sua casa, é onde nós, como uma audiência, continuamente nos encontramos ao longo da série.
Na verdade, para uma série que lida com tantas ideias complexas - crises de identidade, hackers, corporativismo, vigilância perante um governo opressor - o apartamento fundamenta a história. É como o público se conecta e se identifica com o herói em meio a todos estes conceitos.
Em uma entrevista exclusiva com a Interiors, Matthew Munn, o designer de produção do episódio piloto de Mr. Robot, que preparou o palco para o restante da temporada, fala sobre seu trabalho no que se refere ao apartamento de Elliot.
Munn observa que o espaço do apartamento é "pequeno e apertado ... é um típico apartamento em Nova York, eu queria que ele se parecessem com um". O espaço, no entanto, é também um reflexo do caráter de Elliot. O personagem, por exemplo, não é o tipo de pessoa que estaria interessado em pintar suas paredes, por isso, os cineastas optaram por cinzas quentes como uma maneira de fazer o espaço parecer mais seguro e aconchegante, junto com a iluminação incandescente que aquece a totalidade do lugar.
O interior do seu apartamento também não tem um estilo particular. "Conversamos muito, no início da preparação, sobre o fato de que o apartamento de Elliot deveria ser um reflexo dele e de seus interesses. Na minha mente, Elliot não é um decorador de interiores, seu apartamento serve exclusivamente as suas funções como um lugar para ele trabalhar e dormir. "A série estabelece, efetivamente, como base o apartamento de Elliot, mas mesmo dentro desse espaço maior, há uma forte ênfase em ambiências específicas , como seu sofá e sua mesa de trabalho. A maior parte de seu tempo é gasto no seu computador ou usando drogas como uma forma de escapar da realidade.
O espaço mais significativo, porém, é a mesa de Elliot. "A sua escrivaninha está diretamente relacionada ao seu trabalho. Queríamos uma mesa simples para apoiar o que era, obviamente, a única coisa no apartamento em que Elliot realmente investiu, seu computador." Elliot é um personagem que tem um sistema de computador montado manualmente em que ele passa seu tempo arrumando e desmontando. Em uma vida de caos, ele encontra ordem a sua própria maneira. "Eu queria que este espaço parecesse uma área de trabalho e que fosse confuso de uma forma que só Elliot poderia discernir a sua ordem."
A arquitetura de Mr. Robot é um reflexo de seus personagens. Os espaços de escritórios minimalistas e contemporâneos da E. Corp refletem a personalidade de Tyrell, enquanto o caótico e pequeno apartamento remete ao estilo de vida de Elliot. Matthew Munn observa, "apartamento de Elliot é quase como uma caverna onde ele vai para o santuário, o que demonstra como o mundo exterior faz com que Elliot se sinta desconfortável, quase como um animal selvagem, e eu tentei fazer com que o apartamento parecesse uma caverna onde ele pudesse se esconder".
A 2ª Temporada de Mr. Robot estreou dia 13 de julho, nos EUA.
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